Bordeaux: déguisés Juifs



No Final do século XV, judeus conversos começam a chegar em Bordeaux, os primeiros vindos de Espanha e, posteriormente, uma grande massa vinda de Portugal.
Desde cedo foram muito bem recebidos pelas autoridades locais, visto como benéficos a economia, pelos seus contatos comerciais em vários países da Europa e pelo seu auto-nível intelectual.


Em 1550 obtiveram carta patente de D. Henrique II de França, autorizando a residirem em qualquer lugar da cidade e naturalização.

Foram recebidos na condição de Cristão-Novos, e continuaram a utilizar esse mecanismo para driblar as autoridades, Dessa forma, aparentemente eram “bons católicos”, embora os católicos suspeitassem desses portugueses praticarem o judaísmo.

Não se enganavam, em seus lares os Judeus Conversos Portugueses, suas faziam Esnoga, o que era ignorado pelas autoridades locais.
Jean-Baptiste d'Ornano

Decretos como os emitido em 1612, pelo Marechal Jean-Baptiste d'Ornano, tenente-general de Guienne, proibiam a população católica  de levantar suspeitas contra os comerciantes da Nação Portuguesa, no que diz respeito ao credo.

Este é um dos exemplos da constante preocupação das autoridades em zelar pelo bem está dos Cristão-Novos.

Os Conversos Portugueses, se concentraram inicialmente nas freguesias de Saint Eulalie e St. Eloy.

Porém há noticias de sepultamentos nos de Portugueses Conversos nos cemitérios das freguesias de St. Projet e St. Michel.

A história registra que até os fins do século XVII, os Judeus Conversos da Nação Portuguesa, eram sepultados em áreas reservadas exclusivamente a eles nos cemitérios católicos.

Embora levassem uma vida social como católicos, indo as missas, batizando seus filhos e casando-se com a presença de padres, é fato que continuaram a praticar o judaísmo, ou o que aprenderam com seus país, em seus lares, ocultamente.

Em 1710, uma atitude dos Judeus conversos da Nação Portuguesa veio colocar  fim a condição cripta.

Apesar de parte ainda preferir por na viver por segurança na condição de criptojudeus, uma grande parcela, voltou abertamente ao Judaísmo.

Em contato, clandestino, com as Comunidades Portuguesas de Amsterdã e Livorno, a Nação Portuguesa de Bordeaux, se fez presente, desde cedo, em instituições judaicas voltadas à beneficência.

A exemplo temos A Casa de Dotar Órfãs, com sede em Amsterdã, organização criada com  intuito de angariar dotes para as moças pobres da Nação Judaica Hispano-Portuguesa.
Entre os seus Sócios Contribuintes e beneficiados estavam muitas família da Nação Portuguesa de Bordeaux. 
Carta-Patente
de Naturalização

Assim vemos, que mesmo na condição de Cristão-Novos, muitos dos que não haviam assumido em 1710 a condição de judeus na sociedade francesa, tinham orgulho de fazerem parte de instituições judaicas voltadas à caridade.

No Início do século XVII, foram criadas as primeiras instituições de caridade pelos judeus da Nação em Bordeaux.

Entre elas a Erez Israel, voltada aos pobres locais ou viajantes necessitados.

Nos anos seguintes outras instituições foram criadas, com intuito de prover assistência médica aos pobres, bem como levantar meios para sustentar uma vida comunitária.

Em 1719, foi trazido o primeiro Hakham da comunidade Portuguesa de Bordeaux,  Joseph Falcon, parente do Hakham-Mór da Macedônia Abraham Falcon.

Nos anos seguintes o cargo foi ocupado pelo Hakham Ya’acob Hayim Athias e posteriormente pelo seu filho David Athias.

Nesta época a Comunidade Judaica Portuguesa, já contava com 327 famílias, (1.422 pessoas).

Porém foi somente em 1723, que as novas cartas patentes entregues aos judeus da Nação Portuguesa, começaram a constar no lugar de católico, judeu.

Um reconhecimento oficial da condição daqueles Portugueses da Nação, que escolhiam a França como sua nova pátria.


Mas nem tudo foram flores...

Em 1731, iniciou-se uma guerra política, entre grupos rivais, com intuito de fazer valer a cobranças de impostos aos membros da Nação Portuguesa, assim como era comum a outros judeus que viviam na França.  Apesar dos esforços da oposição, os privilégios foram mantidos a Nação Portuguesa.
Jacob Rodrigues Pereira

Criador da Linguagem 

de surdos e Mundos
O outro Lado da Moeda

O mesmo não aconteceu com os demais judeus na França.

Os judeus de Avigno (de origem Alemã), que migraram para Bordeaux, foram alvo varias vezes dos decretos de expulsão promulgado na França.

E muitas vezes, necessitavam pagar altos impostos para permanecer na região.

Somente em 1759, timidamente, começaram a obter cartas patentes semelhantes aos da Nação Portuguesa. 

A Revolução Francesa:

Em 1788, a Nação Portuguesa de Bordeaux, nomeara dois representes, S. Lopes- Dubec e Abraham Furtado, para representá-los, o compromisso era encaminhar uma proposta de incluir uma cláusula na Constituição em favor dos Judeus na França. E assim garantir os privilégios de liberdade e propriedade que vigoravam antes da revolução.
Os Irmãos  Emile e Isaac Péreire  

Em 6 de Dezembro de 1790, as boas novas foram trazidas pelos representantes da Nação:

(...) "Todos os Judeus conhecidos na França sob o nome de Portugueses, Espanhóis e Avigoneses, gozarão de direitos de Cidadão"(...)

No inicio do século XIX, um censo realizado em Bordeaux,  registrou a presença de 2.131 judeus, sendo que 1.651 eram da Nação Hispano-Portuguesa, 144 de origem Avignonese, e 336 de origem asquenazi,
( Alemã, Polaca ou Holandesa).

Era  Napoleônica

No período de Napoleão, as salas de oração privada de oração (Esnogas), foram substituídas por uma Grande Esnoga, inaugurada em 14 de maio de1812. A sua frente estava Hakham Abraham Andrade.  A Grande Sinagoga foi parcialmente destruída em 1873, em grande incêndio, e devido a reduzida população de origem Hispano-Portuguesa na Cidade, não foi reconstruída.

Na segunda metade do século XIX, a população Judaica de Bordeaux diminui consideravelmente, devido às migrações para os EUA e Canadá. 

A causa estava no auto-índice de  desemprego e a crescimento exacerbado do anti-semitismo na França.

No inicio do século XX, Bordeaux contava com apenas 1.940 judeus. Sendo que, em sua grande parte, os de origem Portuguesa, haviam migrado para Amsterdã ou para as Américas.

Bordeaux
Os poucos que ficaram foram assimilados pelas grandes levas de origem Asquenazi que afluíram para França, após os progom no leste europeu.

Em 1941, um censo foi realizado em Bordeaux, e mostrou que a população judaica do Município era de 6.375 pessoas.

Sendo que 1.198 pessoas eram naturais da cidade e 5177 pessoas,  eram refugiados do regime nazista do Norte da França,  Bélgica e Polônia.



Entre julho de 1942 a Fevereiro de 1944, 1.279 judeus foram deportados a partir de Bordeaux pelos Nazistas para Campos de Concentração. Não se tendo noticias de quantos voltaram vivos.

Hoje a população Sefardita de Bordeaux é formada majoritariamente por judeus do Norte- africanos (Marroquinos e Tunisianos).