Renascimento do Judaísmo em Portugal

Torre de Belém, Lisboa - Portugal  

Embora os tribunais da Inquisição, por decreto real, tenham sido "abolidos" ainda em fins do Século XVIII, em Portugal, foi somente em 1821, que se deu, formalmente, sua extinção.

Samuel Schwarz 
                                  
Em princípios do século XX, a aproximadamente 200 anos, do fim das distinções sociais que dividiram a sociedade portuguesa entre cristãos-novos e cristãos-velhos, duramente atacados pelo decreto Real de 25 de Maio de 1773, pensara se não haverem restado vestígios da presença judaica em Portugal. Pois os poucos que haviam permanecido em solo português, teriam sido engolidos pelo fim genere et moribus.¹

Em 1925, Samuel Schwarz, publica uma obra intitulada "Os cristãos novos em Portugal no século XX, contando suas experiências em junto a uma comunidade cripto-judaica, em Belmonte, norte de Portugal.

Entendendo o ocorrido

O inicio da República em Portugal, foi marcada pelo sentimento anticlerical, fato, que de certa forma, fizera os remanescentes dos antigos cristão-novos, perderem o medo em assumir publicamente sua origem judaica.

Proclamação da República em Portugal
Em 1920, um militar português viria a tornar-se digno do titulo "apostolo dos marranos" dando inicio a 30 anos de trabalhos em pró do retorno dos criptojudeus ao seio da comunidade Israelita.

Esta figura, difícil de desassociar ao movimento de renascimento do judaísmo na Beira e Trás-os-Montes era o capitão Artur Carlos de Barros Basto.

Ao lado da obra Schwarz, a obra do capitão de Barros Bastos, intitulada A obra do Resgate, atraiu todas as atenções do Mundo Judaico para Portugal.

Em 1926, a pedido da Anglo Jewsh Association,  chega a Portugal o renomado jornalista inglês Lucien Wolf, que após uma minuciosa varredura no interior de Portugal emitiu seu parecer sobre a veracidade dos remanescentes criptojudeus em Portugal.

Elaborando um relatório, o mesmo que mais tarde foi responsável pela criação da The London Marranos Committe, à Congregação Bevis Marks Hispano-Portuguesa Esnoga em Londres sobre o caso

Todas as forças pela restauração do Judaísmo em Portugal.

Criado o Comité, foi o mesmo presidido pelo advogado inglês Paul Goodman, com a participação de nome proeminente como Cecil Roth e do próprio Lucien Wolf, então co-fundador do Jewsh Historical Society of England.

American Jewsh Historical Society
O Entusiasmo não só veio de comunidade Israelita Portuguesa na Europa, O proeminente Dr. e Hakham David de Sola Pool Z'l, da Congregação Hispano-Portuguesa Shearith Israel de Nova York, em nome do American Jewsh Historical Society, esteve várias vezes em Portugal com Barros Basto, contribuindo ativamente com sua causa.

Através do Jornal Ha-Lapid, Barros Bastos motivou o retorno criptojudeus ao Judaísmo.

Nos Passos de Barros Basto

Caminhos de Barros Basto
À distância e as dificuldades jamais foram empecilhos para que, em 1925, "O Apóstolo dos Marranos" iniciasse uma série de visitas as comunidades cripto-judaicas do interior de Portugal.

Viajando, muitas vezes, a lombo de jumento, a Aldeias e Freguesias aos últimos redutos criptojudeus Norte de Portugal.  Passando por Belmonte, Vila Real, Chaves, Rebordelo, Vinhais, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro,  Vilarinho, Lagoaça, Moncorvo, Cedovim, Covilhã, Fundão e Aveiro. ²

Sinagoga Kadoorie Mekor Haiim
Em 1929, a primeira Congregação formada por ex-cripto-judeus é erguida em Covilhã.

Em 16 de Janeiro de 1938, a mais suntuosa Sinagoga de Portugal, construída depois 441 anos do decreto Manuelino, que converteu a força milhares de Judeus, é levantada no Porto.  A Catedral do Porto, a Sinagoga Kadoorie Mekor Haiim.

Um desenrolar não esperado

Covilhã
O novo cenário europeu e suas  desenfreadas ondas de anti-semitismo que varrerão a Europa nos fins da década de 30 até a segunda metade da década de 40 do século XX, atingiram indiretamente a frágil comunidade judaico-portuguesa e seu estabelecimento.

Dessa forma foi que o sonho do "aposto dos marranos", o do reavivamento do Judaísmo em terras portuguesa, se deparou com a perseguição políticas e do clero católico contra seu principal líder, Barros Basto.

Afugentando assim muitos retornados, trazendo de volta o medo das perseguições.

A. C. Barros Basto Z'l
Hoje a população judaica de Portugal é composta, em sua maioria, por judeus de origem Norte Africana, algumas famílias do leste europeu, e umas poucas famílias de origem judaico-portuguesa.

E aos descendentes dos criptojudeus em Portugal, só restara a memória do seu grande líder.
Abraham Israel Ben Rosh Z'l, exemplo de uma vida inteira dedicada à causa israelita portuguesa. 

(...) Tudo se Ilumina para aquele que busca a Luz (...) Ben Rosh





Notas:

(¹) Processo eclesiástico para comprovação de pureza de sangue, exigida para aceitação em certos cargos ou honrarias. Na expressão em latim "de genere et moribus".
(²) F. Aveiro (http://www.bocc.ubi.pt/pag/garcia-antonieta-comunidades-marranas.html#foot479)
(³) Ha Lapid - Jan - Fev. de1938.